Publicado na Folha de São Paulo dia 26 de março de 2000
Junto com Alberto Tosi Rodrigues sou um dos responsáveis pelo fato de o livro “Achieving our Country -Leftist Thought in Twentieth-Century America” (Harvard, 1998) ter sido publicado no Brasil com o título “Para Realizar a América – O Pensamento de Esquerda no Século 20 na América” (DP&A, 1999). O professor Renato Janine Ribeiro fez uma generosa menção ao meu nome no comentário ao livro (Mais!, 27/2). Pelo que entendi, ele discorda da diferença que fiz, na “Introdução”, entre pragmatismo e neopragmatismo (A) e, também, discorda do subtítulo, em especial porque permanece nele o nome “América” -penso que Janine Ribeiro gostaria mais que eu colocasse “Estados Unidos” em vez de “América” (B). De modo breve, tento justificar minhas opções.
A – Pragmatismo versus neopragmatismo
Centrei minha “Introdução” no tema da verdade em associação ao tema do pós-modernismo. Disse que o deflacionismo no campo da verdade – a idéia de que a verdade não deve ser tratada de modo metafísico/epistemológico, mas sim de modo semântico- corresponde, no âmbito do pós-modernismo, à descrença nas metanarrativas (Lyotard), uma espécie de “deflacionismo” ideológico e político. Ora, todo esse debate só tem sentido no campo neopragmático, pois no campo propriamente dos velhos pragmatistas (era pré-Quine e pré-Davidson) tudo isso não era tratado nos moldes da filosofia analítica.
B – “Estados Unidos” versus “América”
O tipo de esquerda que Rorty defende deveria ter um papel específico, a saber: sempre lembrar as pessoas de que, quando os imigrantes vieram, eles vieram para “fazer a América”. E o que era a “América” de que eles falavam? Ela era o sonho de liberdade, de tolerância política e religiosa, de crescimento de estilos de vida diferentes, de aumento da igualdade econômica e crescimento da riqueza cultural e moral -tudo o que fosse o contrário dos males do Velho Continente.
Rorty acha que a esquerda deve ser a consciência que chama a atenção de todos para essa “América”, que está por ser realizada. Para Rorty, o sonho americano não morreu, até porque sua realização é tardia: só com o século 20 ele de fato começa: com o “New Deal”, o movimento dos direitos civis, o feminismo, a campanha pelos direitos humanos etc. O livro é sobre a realização da “América”, não dos “Estados Unidos”.