Publicado na Folha de São Paulo 19 de abril de 2018
A reportagem nesta Folha é da jornalista Érica Fraga. Mas, que fique claro, ela não tem culpa pela pesquisa contida no texto publicado nesta segunda-feira (16).
Eis o que ela diz: “A inclusão de filosofia e sociologia como disciplinas obrigatórias no ensino médio em 2009 prejudicou a aprendizagem de matemática dos jovens brasileiros, principalmente os de baixa renda. A conclusão é dos pesquisadores Thais Waideman Niquito e Adolfo Sachsida, em estudo inédito que será publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).”
A continuação da leitura da reportagem é mais estarrecedora ainda. Poupo o leitor de seguir em frente e receber tamanho golpe ideológico. Ou seja, dois jovens fazem uma pesquisa (!) e terminam por descobrir que míseros 50 minutos por semana de filosofia ou sociologia acabaram com a possibilidade dos alunos de aprenderem matemática. Juro! É isso que Niquito & Sachsida afirmam. É difícil de engolir.
Duvido que matemática seja mais importante que filosofia ou sociologia. Isso por uma razão simples: sem filosofia o entendimento da matemática não é entendimento, é decoreba de transposições algébricas.
Mas, ainda que possamos ceder ao senso comum estúpido, que acha que matemática e português sejam as únicas coisas que devem ser ensinadas na escola, seria completamente insano dizer que uns míseros minutinhos de filosofia na semana são o lobo mau que tem impedido os porquinhos de se tornarem os vencedores das olimpíadas de matemática em Codó (MA) ou em Cruz das Almas (BA).
Agora, um coisa é certa: falta, sim, matemática para o brasileiro. Principalmente para os que se confundem com a interpretação de estatísticas. O resultado da pesquisa relatada por Fraga é esdrúxulo, ideológico. Funciona na base de uma continha de subtrair que ninguém faria. Ou seja, quem acredita que ter hoje, nas condições atuais, 50 minutos de matemática e não de filosofia vá resultar em algum benefício prático, na escola pública, para algum estudante?
Trata-se aí, nessa pesquisa em questão, de se colocar na mesa elementos ilegítimos de apoio à reforma do ensino do governo Dilma-Temer, cujo único objetivo é enxugar a grade curricular da escola média. O objetivo é torná-la igual para todos —igual na mediocridade. Democratizar a escola virou sinônimo de socializar a incultura.
Claro que uma escola que corta disciplinas combina com o arrocho salarial dos professores e com a transformação da carreira do magistério em bico.
Mas é engano achar que todas as escolas particulares seguirão a determinação de estragar o ensino. Algumas escolas particulares vão continuar o ensino de ciências humanas, junto com todas as outras disciplinas, e sempre vão fazer propaganda desse currículo rico, não do currículo pobre.
Afinal, currículo enxuto é para aluno que não quer estudar. Sabemos disso. Então, mais ainda haverá um fosso entre ricos e pobres do ponto de vista educacional. Quem puder pagar vai continuar tendo o melhor ensino propedêutico à universidade. Os outros terão o ensino Dilma-Temer, o do currículo esvaziado. A escola pobre para o pobre.