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Marilene Felinto diz que só veio a ler Monteiro Lobato bem tarde. Disse que Negrinha a fez ficar triste, pois ela era a “negrinha”. Sem dúvida, Marilene Felinto não entendeu Negrinha. Formada em jornalismo e, mesmo assim, não conseguiu entender um livro simples. Ficou com raiva de Lobato.

Imagine Felinto não sendo só uma identitária da cor, mas também identitária de algum feminismo. Talvez visse sexismo em Sade, uma vez que vê racismo por aí afora, sem crítica para entendê-lo. A cada palavra “boceta” em Sade, ela choraria, e então pediria a censura. Ela passaria chorando a cada página e o volume de censores pedidos daria um partido político. Qual?

Imagine Felinto lendo Kant. Veria ele usar a palavra “negro” de um modo não elogiável! Ela começaria a ter espasmos. Ao notar que Kant pede, então, que a mulher estuprada se suicide, ela iria decretar a prisão do tal professor de Filosofia. “Imediatamente”, ela diria. Ela procuraria no Google o endereço de Kant, para ajudar a polícia.

Um dia avisariam Felinto que um tal de Platão “condenou os poetas” em sua cidade ideal. Então, Felinto, protetora da artes, novamente procuraria no Google para achar a casa de Platão, de modo a prendê-lo. Atenderia o Bispo Macedo e, junto com Malafaia (aquele que quer rola), tentariam impor ao MEC a criminalização de A República.

Contariam a Felinto que um tal Diógenes vivia em um Barril, e que ele saía dali para se masturbar na Ágora. Falariam que ele era um cínico, e que cínico vinha do grego Kynikos, que significa “cão”. Felinto sairia em uma matança aos cães. Eles estariam ensinando as crianças a se masturbar em público! Professoras evangélicas a acompanhariam.

Após alguns anos, tendo terminado a Era Bolsonaro, em um tribunal restaurador de algum bom senso, se a acusassem de estupidez e crimes, mesmo sem saber ao certo o que fez, ela invocaria o juízo de autoridade. Diria: mas tudo que fiz eu fiz porque eu li na Folha, na coluna do Marcelo Coelho, que o Monteiro Lobato era racista, e daí eu fui adiante! Coitado do Marcelo Coelho!

Paulo Ghiraldelli, 63, filósofo.

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