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Pamela Anderson se tornou famosa com a série Baywatch. Loira e seiuda! Ela se apresentava sempre correndo na praia, de modo que pudéssemos ver os volumosos apetrechos da comissão de frente trazendo a cabeleira sedutora. A “besta loira” de Nietzsche. O filósofo alemão soube valorizar o fascínio e o temor que essa imagem causava em todo o Império Romano, sempre esperando mais uma sanguinária invasão bárbara nórdica. Talvez a Europa ainda não tenha se libertado disso. E nós, afinal, somos europeus!
Em um determinado momento de sua carreira, Anderson lançou um livro autobiográfico. Em uma das entrevistas a respeito do livro, ela disse que tudo que fazia tinha sucesso porque ela era comedida. Fazendo pouco, podia receber elogios, ela disse. Pois as pessoas estavam tão acostumadas a loiras burras que se uma loira conseguisse produzir ao menos umas três frases de bom humor, já estaria despontando como intelectual.
Anderson nos avisou sobre aquilo que Gabriel Pensador sempre soube, mas não pode mais cantar: loira burra existe. Loira burra é algo produzido em série. Uma menina loira que escapa de ser burra, no Ocidente, é milagre.
As universidade americanas já estudaram esse fenômeno. É interessante. A desgraça emocional do negro é a felicidade da criança branca, mas ao mesmo tempo a fonte de burrice da menina loira. Os estudos foram feitos em creches de adoção e em famílias. As crianças brancas são abraçadas 19 vezes mais que as negras, a cada visita de casais que buscam a adoção. O mesmo se repete com as pessoas que trabalham na creche, elas preparam para a adoção as brancas – “elas têm mais chances”. Entre as brancas, as loirinhas são as poupadas. Se há serviço manual, as negras são destacadas para cumpri-lo, as brancas vão para a supervisão. As loirinhas ficam no colo, são completamente poupadas. Nas famílias o mesmo se repete, em outro nível. A menina loira nunca consegue se desenvolver. Tudo é trazido para a sua mão. Na escola de crianças pequenas, as professoras e professores não mudam o script. Há crianças loiras que não conseguem terminar nenhuma lição – os professores as poupam, fazem a lição por elas. A criança loira, em especial a menina, não percebe que está sendo educada para ser inútil, que está sendo coarctada no seu desenvolvimento. Meninas loiras muito curiosas, que percebem que poderão ficar inertes, reagem, mas aprendem perversamente outro comportamento: o de manipulação dos adultos. Se os cabeços loiros são seguidos de “beleza de boneca”, então, a criança não conseguirá mesmo se desenvolver. Os adultos, sem perceber, a protegem em demasia. Essa é a máquina ocidental de produção de loira burra.
Essa máquina produz negros sofridos de um lado, e loiras burras por outro. A “besta loira” precisa ser cuidada desde criança, pois, afinal, um dia ela irá deixar de invadir Roma e ir embora. Um belo dia, ela irá ficar e terminar como chefe do próprio Império Romano. Os latinos sempre desconfiaram que um dia os nórdicos iriam ficar. Eles de fato ficaram. Os latinos que cuidaram de crianças loiras acertaram: cuidamos daquelas que um dia iriam se parecer com os dominadores. A besta loira, afinal, se fez proprietária do Império Romano, o império latino. Foi a vitória da incultura sobre a cultura? Foi a vitória de uma simbologia que perdura.
Quando vejo loiras burras no jornalismo brasileiro ou na política, não tenho dúvida que, não raro, são feitas a partir de projetos de homens com desejo imenso de poder. Homens que não sabem dessa história que contei, mas que percebem que o Brasil é suficientemente racista para comportar com sucesso na TV e nos jornais a mulher loira, a loira burra, como aríete de perpetuação do senso comum. O senso comum liberal.
Se você solta uma loira burra por aí, na primeira manifestação de rua que contenha negros, ela rapidamente retruca no Twitter: “é genocídio, cuidado com o Covid-19”. Ela não consegue entender que os trabalhadores já estavam nas ruas, ora bolas, trabalhando! Pois ela foi a criança poupada de tudo.
Se você é uma moça loira e não virou loira burra, agradeça a Deus. Foi milagre.

© Paulo Ghiraldelli, 63, filósofo

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