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Publicado na Folha de São Paulo 6 de maio de 2019

A filosofia é importante porque é “a mãe das ciências”. A sociologia é essencial porque nos dá modelos de “como funciona nossa sociedade”. Esses jargões fáceis contêm verdades simples que todo ministro da Educação deveria saber, até mesmo aqueles nomeados por presidentes com pouca aptidão cognitiva.

No Brasil atual, no entanto, parece que não temos mais como dizer essas coisas evidentes para os que estão no poder. Não escutam. Não sabem o básico e não querem aprender. Então, podemos tentar contar o correto para os outros, os que não são autoridades, mas que não lidam com filosofia e sociologia, e que caíram no velho engodo de que tais disciplinas são improdutivas.

A filosofia e a sociologia são disciplinas altamente profissionalizantes no mundo atual. Na universidade, elas são mais profissionalizantes que computação ou outros ensinamentos tecnológicos. São disciplinas que permitem ao universitário se tornar um profissional diferenciado, que por lidar com os fundamentos de outras ciências, ganha condições de aprender mais rapidamente as técnicas de diversos afazeres. Os que sabem só as técnicas ditas profissionais –facilmente obtidas, não raro, no próprio trabalho– têm uma dificuldade imensa de trocar de emprego. Nessa situação atual, em que todos são postos para se reinventar a cada dez anos, os filósofos e sociólogos levam vantagem.

Cursos técnicos profissionalizantes são de rápida confecção. Todos que fizeram o Senac sabem disso. Mas se são filósofos e sociólogos, além de terem a abertura para a vida universitária, estão sempre aptos a se dar bem nos empregos em que seis meses ou mais de treinamento os põem em vários serviços. Falo por experiência própria e por observar outras pessoas.

A ideia do ministro da Educação, de que um filho de agricultor formado em humanidades volta para casa e não tem qualquer utilidade, é um erro. Vem de alguém que não tem noção de economia. Não sabe como o capitalismo funciona. Imagina que vivemos em uma economia rural de subsistência, sem a máquina, e que o filho do agricultor vai voltar para casa para ajudar o pai.

É uma visão de uma economia rural do século 19 e vigente só em alguns rincões descobertos pelo “Globo Rural” quando o programa quer provocar nostalgia. Na modernidade atual, os filhos fazem cursos superiores exatamente para se diferenciarem dos pais, e isso mesmo quando, sendo mais ricos, possuem pais que já passaram pela universidade.

Assim, do ataque do ministro da Educação atual à sociologia e à filosofia, resta concluir que isso se faz por incultura e, em grande parte, por querer obedecer ao presidente, que não tem outro programa de governo senão atacar tudo que ele imagina que vem “das esquerdas”.

O presidente do Brasil disse que o critério para ser ministro da Educação de seu governo era estar disposto a destruir Paulo Freire. Ora, este ministro aí veio sob encomenda; ele põe a mão no coldre diante de qualquer manifestação da cultura mais sofisticada.