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Publicado na Folha de São Paulo 15 de outubro de 2011

É positiva a proposta de aumentar a carga horária de escolas públicas?

SIM

Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, o ideal seria tornar as redes de ensino dos Estados e dos municípios capazes de aumentar os dias letivos, ou ampliar a carga horária diária, ou, ainda, decidir por uma fórmula mista. Segundo o MEC, uma medida nesse sentido está de acordo com estudos de técnicos do governo Dilma, que “apontam na direção de que aumentar o número de dias letivos é o que mais causa impacto na escola”.

A melhoria da qualidade do ensino dependeria, entre outras coisas, “do número de horas por ano que a criança fica exposta ao professor”. Isso é verdade?

Estudos internacionais confirmam isso. Mas é aí que mora o demônio: para que o tempo de exposição do aluno à radiação professoral seja efetivamente benéfico o professor deve ser um bom professor.

Bem, se é assim, então a ideia do MEC é boa, mas está amarrada ao mesmo tronco que prende as possibilidades de outras ideias interessantes. Eis o tronco: valorização financeira da atividade do magistério, de modo a fazer com que nela permaneçam os melhores.

Mas, enfim, o que estou chamado de outras ideias interessantes?

O governo do Estado de São Paulo tomou duas medidas corretas em relação ao ensino público.

Primeiro, fez concurso para o ingresso na carreira do magistério premiando antes os candidatos com melhor nota que aqueles com mais tempo de serviço.

Segundo, colocou esses professores concursados em um curso semestral de especialização, livres de qualquer outra incumbência e recebendo seus salários regularmente. E a secretaria paulista promete mais: tem dito -mesmo contra vozes conservadoras dentro e fora do governo- que quer reformular a grade curricular do ensino médio no sentido de um maior equilíbrio entre as disciplinas, e deseja dar mais opção de escolha de áreas aos alunos do terceiro e último ano.

A proposta é certeira: as ciências naturais e as humanidades não podem ficar com um número de horas-aula muito diminuto, a ponto de tais disciplinas não terem como colaborar com a formação geral do jovem brasileiro.

Afinal, em um país como o nosso, que cresce em empregos principalmente no setor de serviços, a profissionalização do jovem se dá antes de tudo pela ampliação de sua cultura geral e menos pela aquisição de estreita habilidade técnica. Resta agora ao Estado de São Paulo ficar atento ao obstáculo que pode infelicitar, também, a boa ideia do governo federal de aumento da carga horária escolar.

Ou seja, eis aqui nós todos no mesmo lugar: há de se valorizar financeiramente a carreira do magistério, de modo a segurar em sala de aula os melhores professores.

Quero crer que as aspirações políticas do governador Alckmin sejam o suficiente para que ele tome ciência e consciência disso. Outros políticos do Estado de São Paulo, que trataram mal os professores, tiveram resposta dura nas urnas.

Resumindo: ideias para melhorar o ensino brasileiro e torná-lo mais parecido com o que se faz nos países desenvolvidos não faltam, no entanto, todas elas estão cada vez mais dependentes de um único ponto: em termos de política, o magistério não pode ser visto como um trabalho movido antes pelo célebre “amor às crianças” que pelo útil dinheiro no bolso do trabalhador, no caso, o professor.